terça-feira, 3 de setembro de 2013

História da Motocicleta - parte final

AS MOTONETAS OU SCOOTERS
VESPA PIAGGIO
Da aeronautica ao transporte individual. A guerra foi o grande divisor de águas para toda a economia italiana, assim sendo também para a Piaggio. As fábricas da Piaggio em Pontedera e Piza (Toscana), onde eram fabricados os motores de avião de quatro cilindros P-108 de 1.500 bhp (o então "estado da arte" dos motores aeronáuticos em suas versões civis e militares), foram totalmente arrasadas em 31 de agosto de 1943. Consultando o comando aliado, Armando e Enrico Piaggio iniciaram a reconstrução de suas fábricas para a fabricação de um veículo de transporte leve ("uma motocicleta com um complexo racional de sistemas e peças com quadro combinado, com protetores de intempéries e carenagens que cobriam todas suas partes mecânicas") que teve seu pedido de patente apresentado ao Escritório Central de Patentes de Invenções, Modelos e Nomes do Ministério de Industria e Comércio italiano, em Florença, aos 23 de abril de 1946, e em nome de Piaggio & C. S.p.A. Enrico Piaggio não hesitou em iniciar a produção em massa da primeira Vespa 98 cc ainda em 1946, produzindo 2.484 delas. Em 1947 foram produzidas 10.535. Em 1948 é iniciada a produção da Vespa 125 cc, sendo produzidas 19.822. Em 1950, a primeira fábrica licenciada inicia sua produção na Alemanha, atingindo 60.000 Vespas produzidas neste ano. Enquanto a Lambretta começa a obter algum sucesso mercadológico, em 1953 é atingida a marca de 500.000 Vespas produzidas e em 1956, 1 milhão. Em 1960 é ultrapassada a marca de 2 milhões. Em 1970 quatro milhões. De 1946 a 1965, o ano em que Enrico Piaggio faleceu, somente na Itália, 3.350.000 foram produzidas: 1 Vespa para cada 50 habitantes.
Vespa Piaggio 1960

LAMBRETTA INNOCENTI
História da Lambretta, através de transcrição e revisão do mesmo texto contido nos sites Lambretta Tradicional do Brasil, e do Clube da Lambretta de Santa Catarina. Ferdinando Innocenti, italiano nascido em 01 de setembro de 1891, após concluir o 3° ano da escola técnica, juntou-se ao seu pai, um ferreiro. Aos 18 anos, iniciou com sua família um negócio de compra de ferro utilizado na drenagem dos pântanos de Maremma. O ferro era trocado por óleo, que era vendido gerando grandes lucros. Em 1920 iniciou estudos sobre aplicações possíveis com tubos de aço. Após muitas dificuldades e com o grande crescimento econômico da Itália, devido a política fascista na década de 20, Ferdinando trabalhou para o crescimento de sua indústria, fornecendo seus tubos de ferro para as mais diversas aplicações: Andaimes, torres de alta tensão, portões, cercas, postes, sistemas de irrigação, drenagem, canos, equipamentos de ginástica, esgrima, tubos para termoelétricas, gás, cilindros de ar-comprimido, tanques para vagões de trem, eixos para hélices, e tubos para indústria automobilística, vidraceira e muitas outras. Usos muito variados, porém tecnicamente a produção dos tubos de ferro não era muito diferente. Após a II Guerra Mundial Ferdinando Innocenti, enfrentou o árduo trabalho da reconstrução de sua fábrica situada em Lambratte (daí o nome Lambretta), Milão, que havia sido reduzida a uma pilha escombros e fumaça durante bombardeio dos Aliados. Percebeu neste momento que as necessidades primárias de seu país eram duas, a primeira era a de começar a produção de equipamento industrial e maquinaria pesada; e a segunda era prover de um método barato e seguro, o transporte da população. Ferdinando se uniu ao engenheiro Pierluigi Torre que idealizou um veículo de baixo custo de produção, barato de se manter, e com proteção melhor que uma motocicleta para as mudanças de tempo (chuva, frio, neve, etc.): a Lambretta. A produção da Lambretta começou em 1947, depois de um ano gasto com desenvolvimento e teste do novo protótipo. A primeira Lambretta foi inspirada num veículo militar modelo "Cushman", empregado pelo exército americano durante a II Guerra Mundial que era utilizado para transporte individual de uma divisão motorizada. Naturalmente foi batizada de Modelo UM, que tinha como característica um motor de dois tempos com um único cilindro, e enfadonho, mas eficiente pistão de 52 a 58 mm de diâmetro. Isto dava ao novo modelo, 123 cc, e 4.2 bhp de potência, desenvolvidos a 4400 rpm. Operando com taxa de compressão na relação de 6:1, o Modelo UM desenvolvia até 33 quilômetros com 1 litro de gasolina, um ponto forte de venda, em uma Itália escassa em combustível. O chassi no qual esta pequena máquina estava montada, era um tipo de painel tubular, com uma plataforma, no qual o piloto colocava os pés.
Lambretta Innocenti

LAMBRETTA DO BRASIL
A Lambretta foi a primeira fábrica de veículos do Brasil, saindo na frente até mesmo da indústria automobilística. A implantação da fábrica Lambretta do Brasil S.A.- Indústrias Mecânicas em 1955, como uma licenciada da Inocentti, no bairro da Lapa em São Paulo/SP, coincidiu com a moda mundial da motoneta (scooter), na década de 50. A produção entre 1958 e 1960, o apogeu da marca, superou a quantidade de 50.000 unidades por ano. Um dos pontos fortes da Lambretta era a boa estabilidade, devido ao baixo centro de gravidade proporcionado pelo motor próximo da roda traseira. O motor 2 tempos tinha boa refrigeração mesmo em Marcha lenta, proporcionada por uma ventoinha. A partir de 1960 foi lançado o modelo LI (corresponde ao modelo "série 2 " que foi lançado pela Innocenti na Itália em outubro de 1959) que substituía o eixo cardan por corrente, câmbio de 4 marchas, pneus aro 10" ao invés de 8" além de outras modificações, inclusive na versão Lambrecar. Em 1964 a fábrica lançava uma versão com um motor mais potente, O modelo X de 175cc. Muda sua denominação para Cia. Industrial Pasco Lambretta , fazendo apenas uma mudança da razão social: Pasco é a abreviatura de Pascowitch, nome do proprietário da empresa desde sua implantação inicial.
Em 1970 Felipe Pugliese, então o maior acionista, comprou a fábrica juntamente com o empresário Oliveiro Brumana. mudando a razão social da fábrica para Brumana & Pugliesi S.A. - Indústria e Comércio de Motores e Veículos. Começou então uma tentativa de recuperação da fábrica. Foram construídas novas instalações, na via Anhangüera com 19 mil metros quadrados de área e 12 mil construídos. Foi adquirido maquinário completo para produzir uma 125cc nacional. Em 1971, numa tentativa de melhorar o mercado, a Lambretta lançou uma moto híbrida com motoneta, a Xispa, com projeto e componentes totalmente nacionais em versão de 150cc e 175cc que ficou em linha até 1979.
Mas a indústria automobilística já tinha se implantado e o mercado das motocicletas se aquecia com a entrada das japonesas. A Lambretta quase fechou neste momento. Em 1976 a Brumana Pugliese lança o ciclomotor Ponei, utilizando componentes da Xispa e um motor parecido com o da Garelli, ficando em linha até 1980. O modelo LI evoluiu para a bela Cynthia lançada em 150 e 175cc, ao mesmo tempo que era lançada a MS150 que era mais estreita que a primeira e tinha as tampas laterais cortadas, pelo que recebeu o apelido de "mini saia". Mas faltou capital e a Honda e a Yamaha lançaram primeiro suas 125 cc, e o maquinário ficou guardado em um canto da indústria, sem qualquer utilização. A Lambretta parou de produzir a motoneta (scooter) e passou por uma grande crise. Finalmente em 1979, como último suspiro, lançou a Lambretta Br Tork nas versões 125P, 125T e de 150cc, voltado para o segmento de veículos populares com preços acessíveis. A fábrica faliu em 1982. Sua congênere na Argentina a Siambretta fechou as portas no final da década de 60. Hoje a Lambretta ainda é produzida na Índia pela "S.I.L" ( Scooters India Ltd) porém, somente o triciclo conhecido como "Tuk Tuk". A Lambretta Inocentti trabalhou ainda em protótipos de lambretas com câmbio automático, como a "Automático B", em 1949, e em conjunto com a firma alemã de caixas de câmbio Kreis. Em 1951 a Lambretta Inocentti produziu protótipos de motocicletas: uma de 250cc, com motor bicilíndrico, refrigerado a ar, com transmissão por eixo cardã e rodas de liga leve, e outra, monocilindrica de baixa cilindrada. A Lambretta foi o primeiro veículo automotor efetiva e completamente construído no Brasil, lançada em 1955, ainda um ano antes do Romi-Isetta e do DKW Vemaguete.
Breve Histórico da Romi-Isetta
O Comendador Américo Emílio Romi, proprietário da empresa Máquinas Agrícolas Romi, em Santa Bárbara do Oeste - SP, conhecido por sua excelente visão de futuro, assinou contrato com a empresa italiana ISO Automoveicoli-Spa, fabricante de pequenas motocicletas e triciclos comerciais (fundada pelo gênio Enzo Rivolta), em 7 de fevereiro de 1956, para início de fabricação da Romi-Isetta. Em 5 de setembro de 1956 - quarta-feira, dois dias antes da comemoração da independência do Brasil, nasceu o primeiro automóvel nacional fabricado em série, com 70% de nacionalização, dois meses antes do lançamento da Vemaguete (Perua DKW), da fábrica Vemag. A "Romiseta" foi fabricada no Brasil até 1962. Em 1956, depois de apresentado ao então governador Jânio Quadros, o centro de São Paulo/SP parou para ver o desfile da primeira série de veículos Romi-Isetta fabricados em Santa Bárbara d'Oeste/SP, a 150 km de São Paulo. Foram fabricadas aproximadamente 3.000 unidades, das quais estima-se existirem cerca de 300 até os dias de hoje. A maioria utilizava o motor Iso de 200 cm3, sendo que as últimas unidades fabricadas passaram a usar o motor BMW 300 cm3, mais potente, com cerca de 13 HP.
Romi-Isetta


A Primeira Moto Brasileira
Indicam que em 1951, pode ter sido uma Monark (ainda com motor inglês BSA de 125cm3), a primeira motocicleta fabricada no Brasil. Ainda, segundo esta fonte, esta fábrica lançou três modelos maiores com propulsores CZ e Jawa, da Tchecoslováquia e um ciclomotor (Monareta) equipado com motor NSU alemão. Nessa mesma década apareceram em São Paulo as motonetas Lambreta, Saci e Moskito e no Rio de Janeiro começaram a fabricar a Iso, que vinha com um motor italiano de 150cm3, a Vespa e o Gulliver, um ciclomotor. A década de 1950 foi uma década de apogeu das economias mundiais e de "glamour". Os americanos em especial, se saíram extremamente fortalecidos do conflito da II Guerra Mundial e, através das ideologias e metodologias capitalistas, passam a estabelecer padrões comportamentais e de consumo em nível mundial. Os russos, que também saíram extremamente fortalecidos do conflito mundial, com alta competência tecnológica e sem grandes perdas na população e nos parques industriais, por sua ideologia comunista encerraram-se por trás de uma "cortina de ferro", em uma união "obrigatória e unilateral" (não consensual) de repúblicas socialistas soviéticas, a USRR. O mundo explode em relações de negócios orientados pelos Estados Unidos e Inglaterra através do "Plano Marshal", que estabeleceria uma vertiginosa dinâmica de crescimento nos anos 1950 e isolariam por completo a USRR em um dos pólos da "Guerra Fria". Basta vermos os requintes e até exageros das motocicletas e carros de luxo do final da década de 1950, clássicos imortalizados pela ostentação e riqueza de detalhes polidos e cromados ao extremo (Chevrolet, Buick, Oldsmobile, Ford, Chrysler, Mercury, Cadillac, Jaguar, Mercedes, etc... com carrocerias suntuosas, rabos de peixe, lanternas e calotas de inspiração aeroespacial, frisos, emblemas dianteiros esculturais cromados sobre capôs reluzentes, cores gritantes e curvas estonteantes... / Harley Davidson, Moto Guzzi, Norton, BSA, Triumph, Vespa, Lambretta, etc... com profusão de cromados, emblemas modernos, franjas, para-choques, pneus faixa branca, pinturas brilhantes e multicoloridas, etc...), para se compreender a magnitude dos padrões atingidos pelo luxo de uma era impulsionada pelo "American Way of Life" e pelo cinema Hollywoodiano. Entretanto, o filme "O Selvagem" (The Wild One) de 1953, estrelado por Marlon Brando sobre um Triumph Thunderbird 6T, 650cc, 1953, já estabelecia um certo alerta sobre o antagonismo entre o quanto se ganhou materialmente com a guerra, e o quanto de custo psicológico-emocional foi herdado pelos integrantes das tropas que, voltando dos combates e não se acostumando a vida civil, passam a utilizar, dentre outras coisas, a motocicleta como forma de conviver com o peso da violência passada e com a falta de oportunidades em uma sociedade de consumo extremamente regrada e controlada. A imagem, fantasia e mito do motociclista rebelde e desajustado, foi fortemente fixada no imaginário humano através deste cenário pós-II guerra mundial, dos incidentes (super expostos e sensacionalizados pela mídia) ocorridos na pequena cidade de Hollister/California nos Estados Unidos durante o Gipsy Tour, Rally de 04 a 06/07/1947 (patrocinado pela American Motorcycling Association-AMA, e que teve uma audiência de mais de 4.000 simpatizantes do motociclismo), e também, pelo próprio filme inspirado nestes incidentes em Hollister: "O Selvagem" / "The Wild One".
Triumph Thunderbird 6T


A Moto Megola (1925), com motor radial de cinco cilindros (Rotary Star, 640 cc) em volta do cubo da roda dianteira

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