quarta-feira, 10 de julho de 2013

História da Motocicleta - Parte 1


As primeiras motocicletas foram construídas entre 1868 e 1869, utilizando grandes e pesados motores a vapor. A motocicleta francesa a vapor Michaux-Perreaux, é o primeiro registro de motocicleta, embora não fosse construída nos padrões do que foi classificado como bicicleta segura, com guidon, pedais e corrente tracionando a roda traseira e sistema de freios eficiente. Era mais um velocípede a motor do que uma motocicleta. A ela se seguiu a Roper steam bicycle em 1869, também velocípede, mas que evoluiu para uma motocicleta a vapor que nos idos de 1880 já atingia aproximadamente 60 km/h. Em 1896 Sylvester Roper morreu do coração enquanto pilotava sua motocicleta à 64 km/h em uma competição destas motocicletas. Com a criação do motor a combustão interna, Gottlieb Daimler trabalhando com a assistência do Dr. Nicholas Otto, conhecido produtor de motores a gasolina cria e patenteia na Alemanha a primeira motocicleta com motor de combustão interna a gasolina em 1885, denominando-a Daimler Reitwagen. Em 1894 Hilderbrand e Wolfmuller criam na França a primeira motocicleta posta em produção para vendas, com motor de 4 tempos, 1428 cc, 2,5 bhp e velocidade máxima de 40 km/h. Em 1895, a companhia francesa DeDion-Buton inicia a produção de um motor leve de 138 cc, com 1,5 hp e sistema de lubrificação de perda total que passou a ser utilizado por quase todos os fabricantes de motocicletas, e a ser copiado em várias partes do planeta. A primeira motocicleta norte americana foi a Orient-Aster, fabricada pela Metz Company na cidade de Waltham, Massachusetts, em 1898, três anos antes da Indian e quatro anos antes da Harley Davidson. A partir destes pioneiros toda uma indústria voltada às motocicletas foi criada para os mais variados usos sociais, e gerando uma legião de usuários e fãs por todo o planeta.  No final da década de 1880 e início do, então novo, século XX a expansão da indústria motociclística foi explosiva. A motocicleta foi um dos primeiros veículos autopropulsionados por motores a explosão e, portanto, era o item de modernidade a ser produzido e evoluído. Com as tecnologias de confecção de motores, sistemas e estruturas destas motocicletas primitivas dominadas, iniciou-se na Europa e na América do Norte, a criação de dezenas (talvez centenas) de fábricas e marcas de motocicletas. Conforme o abaixo listado e na possibilidade da abrangência de nossos estudos, somente na virada do Século XIX para o XX, e mais precisamente no período entre 1885 e 1910, foram iniciadas as produções das seguintes marcas de motocicletas:
A l e m a n h a
  • Adler 1900-07
  • Allright 1901
  • Becker 1903-06
  • Bergfex 1904-09
  • BNF 1903-07
  • Brennabor 1902-40
  • Burkhardtia 1904-08
  • Cito 1905-27
  • Claes 1904-08
  • Corona 1902-24
  • Cudell 1898-05
  • Cyclon 1901-05
  • Daimler 1885
  • Diamant 1903-40
  • Durkopp 1901-59
  • Elite 1903-40
  • Excelsior 1901-39
  • Express 1903-50's
  • Fafnir 1900-14
  • Germania 1901-08
  • Grade 1903-25
  • Gritzner 1903-62
  • Gruhn 1909-32
  • Joos 1900-07
  • Komet 1902-05
  • Magnet 1901-24
  • Mars 1903-05
  • Mowe 1903-08
  • Namapo 1901-24
  • NSU 1901-58
  • Opel 1901-30
  • Phanomen 1903-40
  • Presto 1901-40
  • Progress 1901-14
  • Spiess 1903-05
  • Star 1895-C 1900
  • Stoewer 1904-05
  • S&N 1901-08
  • Torpedo 1901-07
  • Universelle 1904
  • Victoria 1899-1966
  • Wanderer 1902-29
  • Walter 1903-42
  • Welt-Rad 1901-07
  • Zeugner 1903-06
Á u s t r i a
  • Austria 1903-1907
  • Laurin & Klement 1899-1908
I n g l a t e r r a
  • AJS 1909
  • Ariel 1898-1970
  • BSA 1906-71
  • Coventry-Eagle 1901-39
  • Davison 1902-08
  • Dene 1903-22
  • DOT 1903-73
  • Douglas 1907-56
  • Elf-King 1907-09
  • Endurance 1909-24
  • Excelsior/UK 1896-1964
  • Forward 1909-15
  • Givaudan 1908-14
  • Graphic 1903-06
  • Hamilton 1901-07
  • Hazel 1906-11
  • Ivel 1901-05
  • Ivy 1908-32
  • James 1902-64
  • JEHU 1901-10
  • JES 1910-24
  • Lagonda 1902-05
  • Matchless 1899-1969
  • New Bowden 1902-03
  • Norton 1901
  • OK-Supreme 1899-1939
  • Overseas 1909-15
  • Rex 1900-33
  • Royal Enfield 1898-1971
  • Triumph 1902
  • Velocette 1904-68
  • XL-All 1902-06
I t á l i a
  • Arzani 1904-06
  • Gilera 1909
F r a n ç a
  • Peugeot 1899-1939
  • Terrot 1901-61
S u é c i a
  • Rex 1908-57
S u í ç a
  • Motosacoche 1899-1957
  • Moser 1905-35
E s t a d o s  U n i d o s
  • Cleveland 1902-05
  • Curtiss 1901-13
  • Emblem 1907-25
  • Excelsior/US 1908-31
  • Indian 1901
  • Iver Johnson 1907-16
  • Harley Davidson 1903
  • Holley 1899-1911
  • Marsh 1900-1913
  • Merkel 1902-15
  • Minneapolis 1908-14
  • Orient Aster 1898
  • Pierce 1910-13
  • Reading-Standard 1903-22
  • Thor 1902-17
  • Yale 1902-15
Ressaltamos, em tempo, que os dados dos fabricantes de motocicleta acima listados comportam lacunas quanto ao real início de produção de marcas italianas e francesas do começo do século XX, que não tiveram suas histórias tão bem registradas como as marcas alemãs (por exemplo). A partir deste intrincado ponto da história da motocicleta, trataremos de abordar algumas características, marcas e equipamentos, focados sempre na distinção dos sistemas viários e nos tipos de pavimentação que no início do século existiam na Europa (já existentes) e na América do Norte (praticamente inexistentes). Portanto, as condições iniciais de uso destes veículos geraram uma grande distinção de abordagens sistêmicas e operacionais entre os tipos de construção e produção das motocicletas européias e norte-americanas. Todos sempre sabem alguma marca ou outra, que imaginavam ter iniciado a verdadeira produção motociclística no mundo e, com certeza, você pensou que seria bem fácil sabermos quem realmente foi o criador do modelo de motocicleta que determinou o que ela é hoje. O início do século XX na Europa foi pródigo em inovações tecnológicas alavancadas pelo rápido crescimento da produção de bens de consumo. Era o ápice da Revolução Industrial. A "produção em massa" e a "linha de montagem" idealizada por Henry Ford na construção de automóveis (utilizada pioneiramente na produção do Ford modelo T em 1908), influenciou fortemente a produção de motocicletas.
Naquele momento da história, a Europa apresentava uma rede de distribuição de insumos para a produção industrial, alicerçada em um grande e consolidado sistema viário que interligava várias metrópoles e cidades industriais européias. Historicamente a primeira estrada européia data de 1750 antes de Cristo, sendo construída durante a Idade do Bronze pela civilização Minóica e localizando-se na Ilha de Creta (rumo ao anfiteatro de Knossos). Nos Estados Unidos, o primeiro plano rodoviário nacional só foi aprovado em 1916 e a rede viária americana só se tornou realidade após a segunda guerra mundial. A famosa "Mother Road" norte-americana, a "Route 66", de 3917 km de extensão (que ligava Chicago a Los Angeles) só começou a se tornar realidade em 1926. Até então, as ligações entre as várias cidades do interior norte-americano eram consideradas trilhas lamacentas. Neste contexto, e concomitantemente à explosão de conhecimentos científicos e tecnológicos ocorridos durante as décadas de 10 e 20, a industria de motocicletas começou a se diversificar na busca das melhores formatações na construção de veículos de duas rodas. Era um momento histórico onde já existia a nítida distinção entre aqueles que, em função de convicções pessoais, optavam pelo uso de cavalos ou de carruagens motorizadas para o transporte. Na Europa, as motocicletas inglesas, alemãs, italianas, francesas, suecas, suíças, belgas, etc., buscaram o melhor equilíbrio dinâmico e as melhores performances de motores, incrementando os componentes mecânicos e, conseqüentemente, a potência e a aceleração. Nos Estados Unidos, as motocicletas tinham de ser sinônimos de resistência e torque para suportar as condições adversas por onde tinham de rodar e, muitas vezes, até substituindo cavalos em trabalhos rurais.
Na Europa, evidenciaram-se:
  • as marcas inglesas Excelsior/UK (1896-1964), Ariel (1898-1970), Royal Enfield (1898-1971), OK-Supreme (1899-1939), Matchless (1899-1969), Rex (1900-1933), Coventry-Eagle (1901-1939), James (1902-1964), Velocette (1904-1968), BSA (1906-1971), Douglas (1907-1956), AJS (1909), Triumph (1902 - Primeiro motor monocilindrico Triumph em 1905, com 499 cc e 3,5 hp) e Norton (1901 - Primeiro motor monocilindrico Norton em 1907, 633 cc), nas décadas de 00 e 10 do século XX, como precursoras da construção de potentes motores monocilíndricos e bicilindricos;
  • a pioneira marca suíça Motosacoche (1899-1957), como, também, precursora da construção de motores monocilíndricos;
  • as marcas francesas Terrot (1901-1961) e Peugeot (1899-1939), como pioneiras na construção de motores monocilíndricos e bicilíndricos que eram fornecidos, por volta de 1900, para as marcas inglesas Norton e Dot;
  • a pioneira marca alemã Victoria (1899-1966) que utilizava motores de cilindros opostos longitudinais (boxer) sendo precursora do motor V Twin transversal em 1957;
  • as marcas alemãs Cyklon (1900-1905), Adler (1900-1957), Wanderer (1902-1929), Mars (1903-1957), NSU (1901-1958) nas décadas de 00 e 10, utilizando motores monocilíndricos (NSU 1902, single com 211 cc) e V Twins (NSU 1912, V twin com 349 cc) e Zundapp (1917-1984);
  • a marca alemã BMW (1917), na década de 20 como precursora dos resistentes motores "boxer" de configuração transversal ao quadro (BMW modelo R32, derivada das BFW "Flink" 1920, motor V Twin e "Hélios" 1922, com motor boxer longitudinal de 500 cc e 8,5 hp);
  • as marcas Italianas Gilera (1909), Benelli (1911), Aermacchi (1912-1978), e Moto-Guzzi com o "Prototipo G. P". de 1920, que transformou-se no modelo "Normale" em 1921, ambos com 500 cc e 8 hp. A Moto-Guzzi foi precursora da projeção e construção de quadros mais dinâmicos para a prática motociclistica e, também, do motor horizontal (a importância histórica da Moto Guzzi será ainda mais evidente por, na década de 60, ter aperfeiçoado o motor V Twin transversal).
Neste mesmo período, nos Estados Unidos, as marcas Orient-Aster (1898), Holley (1899-1911), Marsh (1900-1913), Curtiss (1901-1913), Cleveland (1902-1905), Merkel (1902-1915), Iver Johnson (1907-1916), Emblem (1907-1925), Minneapolis (1908-1914), Excelsior/US (1908-1931), Indian (1901), Yale (1902-1915), Harley-Davidson (1903), Reading-Standard (1903-1922), Pierce (1910-1913), Pope (1911-1918), Henderson (1912-1931), Thor (1902-1917) buscavam soluções técnicas para uma maior resistência do quadro e para a construção de motores de grande capacidade cúbica e torque, com mecânica enxuta para facilitação da sua manutenção em um país de dimensões continentais ainda não provido de uma rede de oficinas mecânicas. Os grandes motores em V longitudinal pareceram se adequar melhor as exigências de "endurance" a que eram submetidas as motocicletas americanas, provavelmente pelo regime de torque que alcançavam e, ainda que a produção e utilização de motores monocilíndricos tenha sido largamente utilizada. O primeiro motor em V da Indian 1907 (modelo "1907 Twin") tinha 633 cc, produzindo 4 hp e o da Harley-Davidson em 1909 (modelo V Twin "5 D") tinha 810 cc, produzindo 7 hp. Destacamos, neste contexto, que a marca Curtiss já apresentava em 1907, um modelo "V8" de 4000 cc e 40 hp, a marca Pierce o modelo "1910 Pierce Four" com quatro cilindros em linha, 696 cc e 7 hp, e a marca Henderson o modelo "1913 Four", com quatro cilindros em linha, 965 cc e 7hp. Traçaremos aqui, através das principais opções tecnológicas atualmente disponíveis no mercado, um perfil das motocicletas que se tornaram padrão de determinados tipos de motorização, "powertrain" e de construção ciclística na configuração de seus quadros. Na Europa, em função do relevo e tipos de solos, as estradas possuem vários tipos de pavimentação, sendo elas quase todas repletas de trajetos entrecortados de curvas. Nos EUA, por sua vez, face suas dimensões continentais e as longas distâncias entre os grandes centros urbanos e industriais, aliadas à presença de grandes planícies, planaltos e desertos, as estradas foram sendo construídas com grandes retas e com pavimentação preferencialmente de concreto, para uma maior durabilidade. Exceção a este padrão americano é o sistema de estradas Pacific Coast Higway que interliga os Estados da Califórnia, Oregon e Washington (HWY 5, HWY 101, HWY 1), que é repleto de curvas e luta desde o início de sua construção, na década de 20, contra deslizamentos, erosões e enchentes, possuindo vários tipos de pavimentação e sendo um dos complexos viários preferidos de motociclistas e motoristas velozes. Assim, nesta década de 20, enquanto nos Estados Unidos as motocicletas eram projetadas para percorrerem grandes, retas, planas distâncias e serem resistentes, na Europa o desenvolvimento de sistemas e componentes de motorização e dinâmica de quadros mais eficientes, eram rapidamente incorporados as motocicletas. Um cenário importante desta evolução se deu nas disputas dos TT (Tourist Trophy) da Ilha de Man, na Inglaterra, e seu circuito montanhoso de 60,739 km. Os exuberantes anos 20 do século XX foram repletos de iniciativas, e o desenvolvimento tecnológico da motocicleta foi acelerado até a quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929. As motocicletas passaram, então, a se distanciar das formas e sistemas voltados a bicicletas, para o que efetivamente é hoje uma motocicleta. Surgiram desde inovações bizarras, até inovações que se perpetuam até os dias atuais como:
  • A Moto Megola (1925), com motor radial de cinco cilindros (Rotary Star, 640 cc) em volta do cubo da roda dianteira;
  • A Triumph "Riccy" de 1920 (projetada pelo engenheiro Sir Harry Ricardo) de um cilindro e quatro válvulas elevadas, enquanto as americanas Indians e Harley Davidson continuavam com válvulas laterais com acionamento por varetas e, portanto, menos eficientes;
  • A Vellocette modelo K de 1923, com sistema de acionamento de válvula por balancins elevados, que são um padrão até os dias atuais;
  • A AJS 1928 de quatro cilindros em linha e refrigeração a água;
  • A Douglas de 1928, com freios a disco;
  • A Moto Guzzi GT de 1928, com quadro provido de suspensões traseira e dianteira ("sprung frame");
Conforme o historiador do motociclismo Don Morley (1983):

"A década de 20 começou com os grosseiros pneus de bordas de contas, freios do tipo bicicleta, motores de válvula lateral, alimentação por conta-gotas totalmente inadequada e os inadequados tanques planos de gasolina, pendurados sob o quadro de uma bicicleta de pedal. A competição nas corridas levou, ao final da década, a pneus com aros de arame, a freios a tambor e (no caso da Douglas) a disco, a alimentação positiva, a quadros decentes e até mesmo a motores de came elevado, juntamente com os primeiros tanques ao estilo moderno. A década de 1920 sozinha quase cobriu o enorme espaço existente entre as veteranas e a década de 80".
Para que possamos sincronizar a história mundial da motocicleta, descreveremos um breve relato sobre a evolução da motocicleta entre a década de 1900 e 1930 no então distante Oriente: o Japão.
Fonte: http://www.flashbackers.com.br/v2/

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